Quarto

"O Banho"

Teus pés descalços entraram pela sala e fui acompanhando seus passos. Teus braços paralisaram os meus e tua boca deslizou lentamente entre meu pescoço e ombros.





Como que enfeitiçada, te entreguei uma das mãos. Nossos corpos, ainda mais próximos, se enlaçavam e se confundiam entre os tremores e os arrepios que ora nos incendiava os poros ora nos gelava a alma.

Sem forças para negar qualquer desejo teu, me dissolvo numa súplica ardente que você decifra nos suspiros cada vez mais intensos e nas batidas descompassadas que ecoam do meu peito.
Teus lábios vão me devorando em beijos deliciosamente cálidos enquanto teus instintos se ocupam de me despirem a alma.





Contra a parede gelada, meu corpo já sem roupa, pulsa impetuosamente enquanto meus olhos sofrem o delírio lúcido de contemplar tua paisagem. Cada curva, cada gesto, cada gotinha de suor meticulosamente desejada passam a fazer parte de mim. E te quero assim perto, dentro, em mim.






Tuas mãos desvendam o intimo, o profano com sabor sublime de sagrado e encontro no teu beijo ainda a causa da culpa de não conseguir deixar de ser tua.
A água sobre nossas cabeças descortinam nossos corpos úmidos de suor e desejo e eu já nem respiro mais. O que entra em meus pulmões é apenas você.




Deixamos pegadas encharcadas pela casa e os lençóis embebidos nos delírios mais sacanas. Te aprisiono em minhas pernas, no intuito de parar o mundo pra sempre entre os suspiros e gemidos. Preciso guardar o gosto doce do teu corpo o tempo de uma eternidade inteira.




Ainda, numa ultima tentativa de mergulhar em você mãos, lábios e língua, me afogo em teus anseios e, quase no suspiro derradeiro, você me arranca de volta para o mundo. Juntas, buscamos no quarto o ar que tanto nos faltou, enquanto as erupções na nossa pele se encarregam de justificar o quão eterno foi esse segundo que não aconteceu.








"Leve"

“Deitada sem roupa, sobre minhas costas também sem roupa e dizendo ao meu ouvido o quanto me quer” - Era assim que você estava? Era sim... me lembro bem de sentir o peso do teu corpo e suas mãos me acariciando, enquanto você se aproximava e falava coisas suas baixinho pra mim.

E não só suas mãos que me desorientavam. Seus lábios agora percorriam meus ombros, minhas costas, me faziam arrepiar a cada respiração mais próxima.

Senti teu corpo livre de qualquer pudor, enquanto minhas mãos, agora nas suas costas, te faziam perceber o quanto eu te queria. Seu movimento sobre mim fazia o mundo girar lentamente, ir e voltar, ir e voltar, ir e voltar.

Cust.


"Tarde I"


Chegou com a melhor das intenções: cumprir tudo o que foi prometido. Simples assim, como a pessoa de palavra que era. Cada ideia que te fez supor algo, cada sonho, imaginação, pensamento, desvarios. Trazia tudo guardado, acumulando pontos, efeitos, energia.
A primeira promessa já estava cumprida: ela já te pertencia. Ali, perto como sempre quis, toda tua. Cada parte do corpo que você agora tocava era teu e, junto com ele, a respiração, os tremores, os arrepios. Tuas mãos escorregavam suavemente em movimentos ora leves, ora intensos naquele corpo que não se controlava mais. Ela era tua e você sentia isso na sintonia dos toques, nos beijos, no pulsar, no olhar.
Sem conseguir pensar em mais nada que fugisse ao propósito daquela tarde, se desfez de roupas, medos, inseguranças. E assim, totalmente despidas de qualquer pudor, com corpos e almas entrelaçados e se perdendo no que seria o começo de um e o fim do outro, o suor que saia dos teus poros se misturava à saliva de beijos molhados que te percorriam todo o corpo. Nessa confusão de suor e saliva, se cumpria outra promessa: molhada.
Continuou o passeio pelos labirintos do teu corpo. Tinha a sede que só ali poderia saciar e também a fome que só passava esquecida entre teus lábios, teus seios, teus sussurros e gemidos. Tudo o que pensava naquele momento era continuar naquela confusão de mãos, braços, pernas, línguas. Tudo que queria era se perder e se encontrar no que, da maneira mais delicada e rude possível, poderia te manter exatamente daquele jeito.
Esqueceu de tudo ali presa entre suas pernas. Não havia mais mundo la fora, não existia dor, guerras. E não havia mais promessas a cumprir. Naquele instante, sentindo a tua respiração tão perto, teu corpo exausto, tuas mãos num carinho suave, só pensava em fazer daquele lugar, daquela imagem perfeita, um lar, um esconderijo. Só havia mais uma promessa... não a cumprir, mas a ser feita: Te amaria para sempre. (Até você não aguentar mais!)
Cust, 09 de novembro de 2011





"Noite I"
Frente a você, tudo é bem mais que páginas.
O sabor dos lábios, o cheiro da pele, teus olhares tudo ali tão perto, tão em minhas mãos, tão nos meus braços e eu quase imóvel. Apenas te sentia, te lia e tentava controlar o ímpeto de tê-la.
Os beijos rolando pela cama, as mãos percorrendo o teu corpo e, naquele silêncio, a tua respiração ofegante, entre suspiros, chamavam meu nome. E eu já não podia me conter.
Presa em teus braços, ainda pude te trazer para mais perto, foi quando arranquei de ti o último sopro de controle. Meus lábios te buscavam, te consumiam...
Te sentia tremer em minhas mãos, enquanto descortinava teus seios, teus rosados e doces seios...
Você respirando ao meu ouvido, continuava a suplicar por delírios, todos eles. Não haviam verbos, nem versos e as únicas linhas eram as dos nossos corpos se misturando em contrações ainda tímidas.
Delírios. Acho que me perdi neles.
Volto a respirar e nossas roupas pelo chão apontam o óbvio, você é minha.
Te tenho nos meus poros, no meu hálito, no meu corpo se dissolvendo em desejo, em minhas mãos redesenhando as descobertas. Te tenho aqui inteira, nua, minha.
A cama, as paredes, o chão frio tudo ardeu ao som dos gemidos. E quando o sol veio invadir o quarto, pude eternizar o brilho dos teus olhos no teu rostinho cansado e decorado com gotinhas de suor. Sublime e bela.  Sutilmente, beijei teus lábios ainda mais quentes, deitei calma no teu peito e, enquanto sentia teu coração, adormeci.

Sam, 10 de novembro de 2011




"Noite II"
A lembrança de você invade o quarto, enquanto eu tento me esconder de mim para te deixar em paz.

Falho outra vez.

Ai você vem e eu mergulho nos teus olhos. E de novo o teu cheiro... tudo em volta é você, como se, com um sopro, me despisse e me tocasse inteira. Cada pedacinho entre erupções e calafrios trépidos, tudo em tuas mãos, ao teu alcance.

O suor é quase como um grito. Do fogo, tua língua é como flama e eu, inteira gota, incongruente ardendo, te tenho, sou tua.

Abro os olhos, então, e a paisagem está vazia. Tua voz ao telefone é tudo o que tenho de você por perto. Aqui ainda os arrepios, tremores, os lençóis embebidos no suor amargo da ausência de uma.

Mas é quase frio, é um suspiro solitário desse lado da linha... São coisas ditas, gestos tão fáceis, tudo ensaiado, mas a gente se despede num boa noite tão cheio de solidão e dor, que você volta a invadir o quarto.
Sam, 12 de dezembro de 2011.