quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

06 de janeiro de 2012

Sam,

Sei que prometi não soltar tua mão...
É tarde, você deve estar dormindo. Não adianta te mandar esta carta agora, vai ser como jogar palavras ao vento e esperar que elas encontrem o caminho até você. Faço isso esperando que elas voem depressa. Provavelmente não terão o mesmo efeito quando o sol começar a nascer.
Não, essa não é uma carta de despedida. Talvez com ela você entenda o que não estou conseguindo explicar, talvez fosse mais fácil te mandar um buquê de flores, talvez seja melhor desaparecer. Não, essa não é uma carta de despedida.
Nem poderia ser. Não depois de vislumbrar por instantes o que, tenho certeza, nenhum ser humano poderia descrever com clareza; não depois de um dia inteiro com seus olhos, suas histórias. Não assim, não agora. Agora, neste exato momento, estou bem diante de você e sentindo tudo aquilo de novo. Vejo ainda o medo no seu olhar, e você tão perto que quase posso sentir o gosto. Mas não são lembranças!
Sei que prometi não soltar tua mão - essas palavras escapam de mim agora. Deixo o vento levar a promessa que te fiz... aqui não é o lugar dela, não cabe. E quando você duvidar, ela vai te alcançar. Olhe para os lados, procure com atenção, minha promessa estará lá.



Sempre...
C.

05 de janeiro de 2012

Sam,

Não vou soltar tua mão.
Não vou deixar de te levar comigo.
Não vou parar de imaginar minha vida ao seu lado.
Não vou parar de te olhar.

Você vai cair
E não haverá abraços.
Eu estarei ao seu lado
E mesmo assim não vou soltar a tua mão.

Sempre serei eu lá.
Invisível ou evidente. De corpo. De alma.
No caminho errado ou na realidade dos sonhos.
Sem asas. Sem dor e angústia.

E que dure a fração de segundos de uma eternidade
Que seja a eternidade numa fração de segundos
Em cada passo, cada gota de sangue, cada respiração
Olhe pro lado e eu estarei segurando a tua mão.


Sempre...
C.

05 de janeiro de 2012

C.

O chão se aproxima.

A poeira já me cega e as feridas sangram abertas antes mesmo do impacto.

A gente devia ter visto o mundo lá de cima, devíamos ter cuidado das asas que nos fariam alçar os mais belos voos e até quando mergulhássemos no vão, com elas seríamos livres, estaríamos seguras.

Estou no meio de uma queda livre e não há abraços lá embaixo.

Por enquanto, o vento bagunça os cabelos e leva embora os fios dourados que você costumava enrolar entre os dedos, sinto lágrimas escorrendo em direção à nuca, os lábios se movem involuntariamente e, dessa vez, é diferente de sonhos com seus beijos.

Me esforço e, quase no chão, grito que te amo. Minha voz chega a fazer eco, mas você não responde. Não há mesmo abraços lá embaixo.

Cabe uma eternidade inteira entre a segurança e o fim e eu poderia descrever cada átimo numa nova súplica por socorro, mas vou preferir calar, fingir mergulhar no olhar que prendeu para sempre os meus últimos desejos e esperar que você os guarde, os mate ou simplesmente, os saiba.

O chão se aproxima. Não há flores onde borboletas possam pousar.

- Eu pude prever. Você me tirou do chão e o que fazer se já não tenho asas? Não me deixe cair. Não solte a minha mão.

Desesperadamente, Sam.