terça-feira, 2 de outubro de 2012

02 de outubro de 2012


C.

Eu tinha frases feitas para definir os termos das transformações interiores que vêm nos atormentado. Diria do amor e toda a sua bagunça, dos abismos e das prováveis quedas, das asas, dos curtos voos e do prazer da vertigem agarrando a tua mão. Mas tudo isso repousa agora, vergonhosamente sem sentido, na página que pintei com uma letra assustadoramente trêmula e horrível.
Foi fácil amar teus olhos, teu sorriso, teu silencio, teus abraços meio amedrontados, teu beijos ora tímidos ora avassaladores, foi fácil amar tudo o que amo, quando te amo. Difícil é amar tua raiva, tua mágoa, tua dor e eu amo. Não por te fazer mal, mas porque é um pedaço ainda mais profundo de você, sem o qual nada disso faria sentido.
Ai, me pego aqui sozinha desenhando teu rosto nos espaços em branco das fotografias que ainda não tirei, construo um mundo inteiro pra te ver feliz e começo a desejar também te ver embrutecer, falar alto, me dar as costas e bater a porta, só pra poder me imaginar ir correndo ao teu encontro e te calar num daqueles beijos que curam anos de paralisia.
E te jogar no chão da sala, desgrenhar teus cabelos, arrancar tua blusa, rolar com você até não entender mais onde é o fim de mim. (Repetitivo, mas eis que teu cheiro invade o quarto).
Pronto. Fiquei suficientemente perturbada para continuar detalhando o que é ter você dormindo comigo quando sonho, mesmo acordada. Também não me lembro mais das frases todas tão cheias de sentido, antes de ficar parada na sua frente tentando entender alguns porquês, se é que eles existem.
Me calo, então. Te amo e só. E amo quando te amo. E amo lasanha e duas taças na mesa. E amo também quando fico besta, apenas te amando, calada.

Amor, Sam.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

03 de setembro de 2012


Sam,

Alguns minutos pra te falar sobre o que eu tenho feito em cada momento do meu dia desde a última vez que pude segurar suas mãos. Bem aqui nessa cama, que agora carrega comigo o peso de dias vazios e noites silenciosas, fechei os olhos, mergulhei minhas mãos em seus cabelos e guardei em mim o doce sabor de ter você por perto.
E desde então me mantive assim. Olhos fechados, coração apertado, você por toda parte. Passo os dias pintando de saudade as paredes ao meu redor, tatuando em mim as lembranças dos nossos momentos e cuspindo poesia no ventilador.
Sei que já faz tempo que te escrevi e o meu silêncio deve ter muitos significados para você, imagino que sim. Mas não vou atribuir nenhuma culpa a você ou a mim, isso não é mais necessário agora.
(Por que sempre chove quando falo com você?)
Mais uma carta pra você, Sam. E agora, como em outros momentos, mais uma tentativa de te entregar um pedaço de mim dentro de um envelope. Ou talvez, e também, uma maneira de dizer que estou aqui, que te leio, que te sinto. Enfim... não sei qual parte de mim vai agora junto com essas palavras. Nem sei se ainda é possível te oferecer algo que já não seja seu. Também não sei mais o que escrever.

Estou com saudades.
E essa frase deveria aparecer logo abaixo do seu nome...

Com amor,
C.

domingo, 2 de setembro de 2012

02 de setembro de 2012

Olá C.


Quase sem querer, começo escrevendo essas linhas. Parece que o mundo parou, agora que percebi caneta e papel em branco nas mãos. Continuo ainda sem saber o que fazer, mas como tudo ao meu redor, essa página, essa tinta azul escorregando em letras nada arredondadas, me levam ao teu nome.
Vagarosamente, deixo que se derramem as mais doces lembranças do teu jeito, do teu sorriso, da forma como ajeita teu cabelo, da tua pele, dos teus olhos... Por um instante te vejo e, como em tantas outras vezes, teu perfume invade a casa me deixando tonta.
Rabisco o papel em volta, ensaiando o que dizer, caso essa presença dilacerante se torne real. E aqui estou eu perdida entre árvores, nuvens, estrelas, corações e nenhuma frase de efeito, com olhos estatelados no vazio onde você deveria estar, atravessando paredes, girando relógio, contradizendo toda lógica, projetando toda mágica na tentativa de te alcançar.
Em vão.
Fim de tarde, beijos guardados, desejos rabiscados, papel amassado e mais uma carta que você nem chegará a ler.

Saudades,
Sam.


terça-feira, 12 de junho de 2012

12 de Junho de 2012


Oi, C.

Costumava ser esse o nosso jeito e, depois de passar o dia inteiro procurando uma maneira de te alcançar, voltei aqui e reli cada carta como quem abre uma caixinha de bilhetes antigos para encontrar nas páginas ainda um resto de perfume.
O mergulho no abismo, você segurando a minha mão, restinhos de você no meu quarto, as sombras do teu, as asas de borboleta, os sons, as cores, todos os gritos no silêncio, as lembranças de uns versos cantarolados nas madrugadas, saudade e mais saudades. Os pontos de energia, a descoberta do nosso amor, dor, arrepios, suspiros, tantos sois, luas e chuvas para nos alcançar, promessas. Doeu lembrar que te ensinei a contar os “meus carneirinhos”, doeu também reviver cada segundo que te inventei na minha sala, no meu quarto, nos nossos banhos. Dói a falta dos “milhões de abraços apertados, colados, calados” e agora ouço a música com a qual deveríamos nos casar mais uma vez... Ai encontro: “nossas cartas serão as culpadas por isso. Todas as lembranças que eu tenho de você me farão dilacerar e me resumirá num ser debilitado nesse momento”.
Anjos... malditos anjos.... malditos anjos e essa língua que aprendemos a falar com eles que fez de você tão parte de mim, que nos permitiu entender tanto as coisas não ditas. Maldito anjo que te mostrou pra mim. Não! Não pense que tudo mudou e que me arrependo, é que agora no meio desse desespero eu precisava culpar alguém, alguém que não fosse eu, pois já não dou conta de carregar nos ombros o peso das promessas não cumpridas e dos espinhos que te feriram, piso ainda num chão áspero e rachado pela saudade, mas sob minha cabeça chove. Chove toda lágrima que nem ao menos brotou dos teus olhos.
Eu poderia implorar, te pedir mais uma vez pra ficar, te pedir pra jurar que “me quer pra sempre na sua vida e que vai casar comigo amanha”, eu te apertaria num abraço “até você não aguentar mais”, mas não tenho forças e não suportaria te ver indo embora mais uma vez. “Desistindo...”
Não sei o que fazer, não sei se existe algo que eu possa fazer. Por enquanto, fico remoendo as lembranças, chorando pelos cantos e ouvindo incontáveis vezes as nossas tantas canções. Ai nossas pernas se tocam sob a mesa e eu deveria corar de novo, mas a lágrima passou borrando as cores de um sorriso tímido; ainda assim, tento te encontrar sentada no canto onde eu te roubaria um primeiro beijo... Por favor, me prenda lá!
Ficou difícil continuar escrevendo.
Eu talvez tenha ainda muita coisa pra dizer, mas não sei se você ainda gostaria de saber. A gente pode se olhar nos olhos e conversar quando você quiser, se quiser. Não se proteja de mim, eu nunca ia querer o teu mal.
Te vendo ir e já tonta de tanto tentar te prender, eu ainda teria um “eu te amo quase inaudível”. Sei que pra você nada foi o bastante, mas te entreguei sentimentos que nem imaginava possíveis e tudo o que te mostrei nunca foi nem jamais poderia ser de outro alguém. Tudo que é teu continuará aqui comigo. Me perdoa por ter te feito desistir.
Não sei o que fazer com a poesia...

Desesperadamente, Sam.
P.S.: Se eu deixaria de esperar por você??? MAIS NUNCA!

quinta-feira, 24 de maio de 2012

24 de maio de 2012


Ei, Sam

Passei o dia todo pensando numa forma de te dizer alguma coisa. Me libertar da angústia de um silêncio que passei a desconhecer depois de descobrir como é bom te fazer me entender um pouco mais e de uma maneira tão unicamente nossa. Poderia ter sido uma música, uma poesia, uma historinha. Mas aqui estou eu... papel, caneta e a sensação de reviver, um a um, nossos tantos momentos em cada palavra rabiscada.
E sabe quando, quase brincando, eu te falei sobre pontos energéticos? Parece que foi ontem, não? E mesmo depois de olhar pra trás e ver que o tempo passou; mesmo entre tantas angústias e com toda magia que existe em tudo que de alguma forma nos toca, você ainda queima em mim, pulsa em cada pedacinho meu. E aí aquela sensação de que o resto do mundo é pequeno demais diante do que a gente se tornou.
Enfim... Era isso que me sufocava quando disquei seu número de madrugada. Foi isso que estava engasgado e que foi deliberadamente resumido num “eu te amo” quase inaudível.
Queria te entregar esse papel bem do jeito que o vejo agora, com palavras rabiscadas nas margens, tudo aparentemente sem sentido — nossas entrelinhas. Colocaria num envelope com desenhos de corações e enrolado num laço vermelho, mas você ia achar brega demais, não? :p
Melhor não. Deixo aqui no nosso cantinho e espero que chegue logo até você.

Com muito amor e muita breguice,
C.

segunda-feira, 19 de março de 2012

19 de março de 2012

C.

Tuas mãos ainda deslizam sobre a minha pele, teus olhos ainda ferem minha retina com as palavras mais doces que você ainda não conseguiu dizer e tudo isso dói, dói como uma lembrança distante.
Uma falta que não cessa, uma saudade que não passa e tua voz repetindo um milhão de vezes “fica!”. Não havia no mundo lugar em que eu quisesse estar. Era em você a minha casa.
Teu corpo me cantava versos, tua respiração ditava o ritmo e por tais “frações de eternidade”, não havia nenhum mundo lá fora.  Éramos apenas nós num plano perfeitamente sonhado. O quarto cheio do cheiro dos nossos corpos embriagados, as sombras das folhas nos fazendo companhia através do vidro, o silencio, as luzes, o beijo, o toque...
Deitada aqui, fecho os olhos e volto a estar ao teu lado. A cama parece girar... Os arrepios sinalizam teu toque e, outra vez, consigo sentir teus beijos, mais que isso, teus lábios quentes percorrem as curvas se impregnando de gosto, de fome, de sede. Eu quero ficar, te deixo ficar e ali, imóvel, sou tua.
Não quero abrir os olhos. Ainda sinto teu cheiro, o sabor do teu sexo ainda alimenta meus delírios mais absurdos...  Toco teu rosto sob os reflexos de uma noite que nunca mais vai acabar e desenho teus lábios em beijos intermináveis... Tenho suspirado mais que conseguido respirar.
Abro os olhos, enfim. Acho que tenho uma lágrima. Mas você esteve aqui e coube direitinho entre meus braços.

Apaixonadamente, Sam.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

08 de fevereiro de 2012

"Tudo estranhamente claro e silencioso por aqui.

Busquei pelos meus pensamentos bagunçados algum motivo para justificar estas linhas e só consegui te ver sentada ao meu lado olhando o sol se pôr.

Agora a sua lua ilumina a noite enquanto o meu amor ecoa docemente compassado nas batidas em meu peito. Cada gota de vida e todas as estrelas do céu te trazem para o meu presente, como vento movimentando nuvens.

E é bem assim que te enxergo. Aqui e agora. Meu presente...

O futuro? Aguardamos. Ele sabe esperar."


C.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

06 de janeiro de 2012

Sam,

Sei que prometi não soltar tua mão...
É tarde, você deve estar dormindo. Não adianta te mandar esta carta agora, vai ser como jogar palavras ao vento e esperar que elas encontrem o caminho até você. Faço isso esperando que elas voem depressa. Provavelmente não terão o mesmo efeito quando o sol começar a nascer.
Não, essa não é uma carta de despedida. Talvez com ela você entenda o que não estou conseguindo explicar, talvez fosse mais fácil te mandar um buquê de flores, talvez seja melhor desaparecer. Não, essa não é uma carta de despedida.
Nem poderia ser. Não depois de vislumbrar por instantes o que, tenho certeza, nenhum ser humano poderia descrever com clareza; não depois de um dia inteiro com seus olhos, suas histórias. Não assim, não agora. Agora, neste exato momento, estou bem diante de você e sentindo tudo aquilo de novo. Vejo ainda o medo no seu olhar, e você tão perto que quase posso sentir o gosto. Mas não são lembranças!
Sei que prometi não soltar tua mão - essas palavras escapam de mim agora. Deixo o vento levar a promessa que te fiz... aqui não é o lugar dela, não cabe. E quando você duvidar, ela vai te alcançar. Olhe para os lados, procure com atenção, minha promessa estará lá.



Sempre...
C.

05 de janeiro de 2012

Sam,

Não vou soltar tua mão.
Não vou deixar de te levar comigo.
Não vou parar de imaginar minha vida ao seu lado.
Não vou parar de te olhar.

Você vai cair
E não haverá abraços.
Eu estarei ao seu lado
E mesmo assim não vou soltar a tua mão.

Sempre serei eu lá.
Invisível ou evidente. De corpo. De alma.
No caminho errado ou na realidade dos sonhos.
Sem asas. Sem dor e angústia.

E que dure a fração de segundos de uma eternidade
Que seja a eternidade numa fração de segundos
Em cada passo, cada gota de sangue, cada respiração
Olhe pro lado e eu estarei segurando a tua mão.


Sempre...
C.

05 de janeiro de 2012

C.

O chão se aproxima.

A poeira já me cega e as feridas sangram abertas antes mesmo do impacto.

A gente devia ter visto o mundo lá de cima, devíamos ter cuidado das asas que nos fariam alçar os mais belos voos e até quando mergulhássemos no vão, com elas seríamos livres, estaríamos seguras.

Estou no meio de uma queda livre e não há abraços lá embaixo.

Por enquanto, o vento bagunça os cabelos e leva embora os fios dourados que você costumava enrolar entre os dedos, sinto lágrimas escorrendo em direção à nuca, os lábios se movem involuntariamente e, dessa vez, é diferente de sonhos com seus beijos.

Me esforço e, quase no chão, grito que te amo. Minha voz chega a fazer eco, mas você não responde. Não há mesmo abraços lá embaixo.

Cabe uma eternidade inteira entre a segurança e o fim e eu poderia descrever cada átimo numa nova súplica por socorro, mas vou preferir calar, fingir mergulhar no olhar que prendeu para sempre os meus últimos desejos e esperar que você os guarde, os mate ou simplesmente, os saiba.

O chão se aproxima. Não há flores onde borboletas possam pousar.

- Eu pude prever. Você me tirou do chão e o que fazer se já não tenho asas? Não me deixe cair. Não solte a minha mão.

Desesperadamente, Sam.