Oi, C.
Costumava ser esse o nosso jeito e, depois de passar o dia
inteiro procurando uma maneira de te alcançar, voltei aqui e reli cada carta
como quem abre uma caixinha de bilhetes antigos para encontrar nas páginas
ainda um resto de perfume.
O mergulho no abismo, você segurando a minha mão, restinhos
de você no meu quarto, as sombras do teu, as asas de borboleta, os sons, as
cores, todos os gritos no silêncio, as lembranças de uns versos cantarolados
nas madrugadas, saudade e mais saudades. Os pontos de energia, a descoberta do
nosso amor, dor, arrepios, suspiros, tantos sois, luas e chuvas para nos alcançar,
promessas. Doeu lembrar que te ensinei a contar os “meus carneirinhos”, doeu
também reviver cada segundo que te inventei na minha sala, no meu quarto, nos
nossos banhos. Dói a falta dos “milhões de abraços apertados, colados, calados”
e agora ouço a música com a qual deveríamos nos casar mais uma vez... Ai
encontro: “nossas cartas serão as culpadas por isso. Todas as lembranças que eu
tenho de você me farão dilacerar e me resumirá num ser debilitado nesse momento”.
Anjos... malditos anjos.... malditos anjos e essa língua que
aprendemos a falar com eles que fez de você tão parte de mim, que nos permitiu
entender tanto as coisas não ditas. Maldito anjo que te mostrou pra mim. Não!
Não pense que tudo mudou e que me arrependo, é que agora no meio desse
desespero eu precisava culpar alguém, alguém que não fosse eu, pois já não dou
conta de carregar nos ombros o peso das promessas não cumpridas e dos espinhos
que te feriram, piso ainda num chão áspero e rachado pela saudade, mas sob
minha cabeça chove. Chove toda lágrima que nem ao menos brotou dos teus olhos.
Eu poderia implorar, te pedir mais uma vez pra ficar, te
pedir pra jurar que “me quer pra sempre na sua vida e que vai casar comigo
amanha”, eu te apertaria num abraço “até você não aguentar mais”, mas não tenho
forças e não suportaria te ver indo embora mais uma vez. “Desistindo...”
Não sei o que fazer, não sei se existe algo que eu possa
fazer. Por enquanto, fico remoendo as lembranças, chorando pelos cantos e
ouvindo incontáveis vezes as nossas tantas canções. Ai nossas pernas se tocam
sob a mesa e eu deveria corar de novo, mas a lágrima passou borrando as cores
de um sorriso tímido; ainda assim, tento te encontrar sentada no canto onde eu
te roubaria um primeiro beijo... Por favor, me prenda lá!
Ficou difícil continuar escrevendo.
Eu talvez tenha ainda muita coisa pra dizer, mas não sei se
você ainda gostaria de saber. A gente pode se olhar nos olhos e conversar quando
você quiser, se quiser. Não se proteja de mim, eu nunca ia querer o teu mal.
Te vendo ir e já tonta de tanto tentar te prender, eu ainda
teria um “eu te amo quase inaudível”. Sei que pra você nada foi o bastante, mas
te entreguei sentimentos que nem imaginava possíveis e tudo o que te mostrei
nunca foi nem jamais poderia ser de outro alguém. Tudo que é teu continuará
aqui comigo. Me perdoa por ter te feito desistir.
Não sei o que fazer com a poesia...
Desesperadamente, Sam.
P.S.: Se eu deixaria de esperar por você??? MAIS NUNCA!